terça-feira, 4 de maio de 2010

Cícero Lucena: mais um gesto


Cícero e Cássio: não será como os maranhistas queriam
Cícero e Cássio: não será como os maranhistas queriam























O senador Cícero Lucena vai votar em Cássio para Senador. Já disse isso a amigos próximos. E não será tão somente por causa da obrigação partidária. É porque quer fechar mais esse círculo de sua vida política com mais um gesto de lealdade.
 
Tal qual em 2002 quando, num rompante de altruísmo, apoiou Cássio para o governo.
 
Oito anos depois, outra verdade deve ser registrada na história. Cícero pode até sair pequeno eleitoralmente do processo e com a pecha de “birrento” pela intransigência de manter uma candidatura que não empinava, mas ninguém vai poder acusá-lo, nem hoje nem amanhã, de praticar um ato de indignidade.
 
Claro que a história também registra gestos do poeta Ronaldo e família com o “caboclinho” do trato afável. Mas, em 2010, coube a Cícero novamente a prerrogativa do gesto.
 
E, apesar de todas as ameaças, o senador tucano dá sinais de que vai sair do processo sem atirar em Cássio. Para frustração dos governistas. Para frustração, no íntimo, do governador Maranhão e de seus seguidores.
 
Soube pelo deputado Antônio Mineral que, inicialmente, o senador pensou em fazer uma entrevista coletiva para anunciar a renúncia da candidatura ao governo do Estado. Mas depois veio o sentimento: “E se perguntarem se Cássio me traiu?”. É melhor evitar.
 
Cícero evitou.
 
Na carta de renúncia, Cícero provavelmente não irá ultrapassar a fronteira da justificativa. Pode até dizer que não encontrou em seu partido e nos seus aliados o apoio necessário para construir sua candidatura, mas não vai classificar isso como um gesto reprovável publicamente e digno de racha partidária.
 
Cássio vai ficar livre da pecha de traidor. Em parte, porque Cícero sai eleitoralmente pequeno do processo. E ninguém trai quem não faz parte do processo. Mas vai ficar livre especialmente porque Cícero Lucena não vai alimentar esse discurso.
 
(quantas pessoas não gostariam de escrever essa carta por Cícero).
 
Independentemente do mérito das posições políticas adotadas pelo ex-governador Cássio, o senador supõe a preservação da relação. Nem que seja pra jogá-la na cara do ex-governador num futuro breve ou distante.
 
Claro que não vai votar em Ricardo Coutinho. E, dizem, pode até se esforçar para derrota-lo, o que supõe, de todo jeito, ajuda ao projeto de reeleição do governador Maranhão.
 
Mas, de qualquer forma, essa novela do PSDB vai acabar sem um capítulo tão sangrento quanto foi pintado – e desejado – por muitos.
 
È bem certo de que o senador sai atrasado dessa disputa. Poderia ter renunciado no começo da discussão, quando tinha até 14% nas pesquisas. Iria imprimir a tese de que o resultado – se favorável à oposição – deveria ser creditado a ele.
 
Mas, independentemente da intransigência que adotou em sustentar uma candidatura que não tinha respaldo político e eleitoral, Cícero sai desse impasse da mesma forma como sempre pautou sua vida e sua relação com os aliados: fazendo com eles tão somente o que gostaria que fizessem consigo.  
 
Ao ex-governador Cássio, cabe apenas reconhecer isso. Não como gesto de afronta. Mas como mais um gesto de lealdade.
 
Até porque, como eu já disse, Cícero vai votar em Cássio. E não há gesto maior para provar a solidez de uma relação política do que representar nos dígitos da urna a crença na continuidade de uma amizade de longos anos.
 
 
 
Luís Tôrres

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